Uma vida aparentemente normal. Um dia, parecido com aquilo a que chamamos "regular".
Uma rotina, uma pessoa, vários lugares visitados todos os dias.
Já sabia aqueles prédios, aquelas ruas, até sabia quais as pessoas que iam passar a determinado momento. Não gostava minimamente de sabe-lo, queria me ver livre das paredes que me tomavam como prisioneiro, guardavam-me captivo entre o céu escuro, a mandarem-me areia para os olhos.
Estava a andar naquele passeio sujo, sem algum sinal de vida, sabia que ainda me faltava muitos passos para o meu destino e os pés já me doíam, mas não desisti porque era mais forte que eu.
E reparei num homem a andar na minha direcção, mesmo a minha frente quase que como se quisesse chocar contra mim. Estava calado, e a olhar muito para mim de olhos bem abertos. Ignorando, olhei para o chão e continuei o meu caminho. Decidi só olhar mais uma vez para ver se ele ainda se encontrava lá, e de repente quando lhe lanço um olhar, ele atrapalhado pega no telemóvel e começa a balbuciar o que me pareceram ser palavras. Não dizia coisa com coisa, como se estivesse a disfarçar algo de mim.
"Disparate, não és o centro das atenções" - Pensei eu, estupidamente.
Mais tarde, depois de muito tempo a andar reparei que estava na mesma rua, no mesmo local onde vi o homem, mas agora ele já não lá estava. Mas sim, uma imensidade de gente, tudo a ir contra a mim e esbarrarem me com os seus corpos pesados. Notei uma grande diferença desta multidão para as pessoas ditas "normais". Estas pessoas, estavam todas ligadas umas as outras, como se se conhecessem todas. Falavam de uma maneira muito esquisita, um dialecto estranho que não consegui perceber. Muitos, quando passavam por mim, baixavam a cabeça quase que por vergonha. Não me conseguiam olhar nos olhos, comecei me a sentir muito estranho.
A cada passo meu, acendia-se uma luz da rua. Senti-me muito ameaçado, mas ao mesmo tempo senti que algo de importante ia acontecer naquele momento.
Senti-me um Rei no meio do meu povo, como se comandasse aqueles corpos sem capacidade de pensar. Que não pensavam, só agiam.
De repente, o meu cérebro dá uma ordem às minhas pernas para se começarem a movimentar muito depressa para um sítio desconhecido por mim.
Fora do meu controlo, deixei me seguir. Não sabendo porque, sabia que não podia fazer nada para impedir que tal acontecesse.
Nunca corri tanto na minha vida, passava pelas ruas a velocidades estonteantes e ninguém que passava por mim se parecia importar, naquele momento não reparei em nada do que escrevo porque tiraram me a capacidade de pensar. Agia por instintos, não nascidos comigo, mas dados naquele preciso momento. Não consegui perceber o que me fizeram, mas hoje aprendi a teoria da maldição que me mandaram.
Por mais que corresse, o impressionante é que não me sentia cansado, porque não era que me estava a controlar.
Finalmente parei.
Nãosabendo onde estava, tentei mexer as pernas e os braços para ver se os controlava.
Pelos vistos estava tudo bem.
Olhei para os lados para tentar perceber que lugar tenebroso era aquele, escuro como breu.
Vejo uma luz ao fundo da paisagem, e percebi que era o único sítio que me podia refugiar.
Vi uma silhueta ao pé da luz, senti uma imensa curiosidade em ver o que era.
Não há palavras para descrever o medo que senti naquele momento.
A silhueta era uma das personagens do meu texto, em carne e osso, viva, naquele momento, naquele lugar. Pasmado, não sabia como reagir.
Aproximei-me devagar, para ver se conseguia falar com ele, e do nada ele começa a correr, a fugir do seu criador. Irritado não sabendo porque, fui a correr atrás dele.
Ele era obra da minha mente, era lá que ele merecia estar.
(...)e de repente tropeço e vejo que caio no meio da estrada, tinha voltado ao mundo real.
E no mundo real há uma coisa muito banal que é a morte.
Que estava se a dirigir a mim em forma de um autocarro a uma velocidade que não dava para evitar a tapar a cara com a mão e esperar pelo pior.
Soltei um grito vindo do fundo da alma, a sentir o peso a esmagar me o peito.
Abro os olhos de repente e vejo que o autocarro tinha parado firmemente mesmo a minha frente, como se controlado por uma força maior. e foi aí que percebi que havia alguém que queria que eu vivesse, alguém que queria que eu chegasse ao meu destino.
Levanto-me calmamente, soprando o pó da camisola.
O meu único desejo era que aquilo acabasse, realidade, sonho, alucinação o que fosse.
Sentei-me com a ideia de que me ia sentir mais aliviado, e foi aí que o sonho começou.
Comecei a sentir a minha cabeça a ficar leve, quase como se estivesse a flutuar.
Vi cores, formas, letras, tudo era claro na minha cabeça.
Tinha adquirido todo o conhecimento do mundo. A partir daquele momento tornei-me no homem mais inteligente do planeta.
Viajei para um lugar desconhecido por mim.
Mas não quis ficar, quis com que aquilo acabasse, queria a vida que eu tinha escolhido, e não que alguém maior em mente que eu tinha decidido o que era melhor para mim.
Não ia viver a minha vida com as escolhas dos outros.
E foi aí que me surgiu a filosofia na minha mente.